O Portal do Ônibus abre parênteses hoje para parabenizar, homenagear e contar um pouco da história de umas das maiores empresas do setor rodoviário do país: a Itapemirim.
Texto: Dorival Nunes Bezerra
Fundada em 4 de julho de 1953, pelo sr Camilo Cola, a Itapemirim começou suas atividades fazendo viagens dentro do Espírito Santo. Eram 16 veículos e 70 funcionários. No ano seguinte, com um aumento de 30% na frota, ela ganha condições de fazer viagens interestaduais. Destino: Rio de Janeiro. A partir daqui, apesar das rodovias ainda carecerem de muita infraestrutura, para garantir a expansão da empresa, ela foi oferecendo cada vez mais destinos. Em 1960, a Itapemirim começou a atender o Norte e Nordeste do país. É justamente, ao começar a atender a região do Nordeste, o momento no qual a empresa se consolida. Em 1962, a viação deixa de ser uma sociedade limitada para virar uma sociedade anônima. Apesar da mudança de perfil organizacional, continuava ainda com as cores azul e prata.
A partir de 1967, começa a usar a cor que passaria a ser um marco na pintura da empresa: o amarelo.
Foi viajando pelos Estados Unidos nos anos 60 que o sr Camilo teve contato com ônibus de 3 eixos bastante comuns nas linhas daquele país (veículos maiores e mais estáveis) e isso o impressionou a tal ponto que ele decidiu implementar em sua empresa. Assim que voltou ao Brasil, Camilo decidiu instalar um terceiro eixo num Monobloco da Mercedes. Aqui se iniciava sua primeira experiência como “fabricante” de ônibus.
É importante pontuar que nesta época ninguém dispunha de ônibus com três eixos, então tais modelos produzidos pela Itapemirim eram adaptações de modelos monoblocos O-355 encarroçados em ônibus da Ciferal (Dinossauro).
Pioneira na ideia do 3º eixo aqui no Brasil e tentando implementar cada vez mais esta tecnologia em seus veículos em virtude das novas condições que vinham surgindo em vários aspectos no setor, a Mirim solicitou 96 unidades com esta característica à Ciferal que, alegando excesso de pedidos de ônibus na época, entregou pouquíssimas unidades.
Isso fez com que a Mirim começasse a adquirir modelos da Nielson (Diplomata), mais modernos, mais novos e maiores que os Dinossauros. As adaptações do terceiro eixo continuavam sendo feitas em suas próprias oficinas.
Aproveitando-se do momento histórico no qual vivia o Brasil nos anos 70 (“milagre econômico” – crescimento industrial, aceleração do crescimento do PIB, inflação baixa) e do processo de ampliação de atendimentos de linhas, a Itapemirim começa a operar com seus veículos de 3 eixos sob intensa propaganda e seu mercado vai ficando cada vez mais amplo com aquisições de setores e de outras empresas, inclusive (Nossa Senhora da Penha).
A empresa Nossa Senhora da Penha foi adquirida pela Itapemirim em 1973. Esta aquisição foi muito importante para a empresa de Camilo Cola porque abriu mercado para operação de linhas no sul do país. Durante muito tempo, a “nova” empresa ostentou as cores branco, vermelho e verde e por isso, foi chamada afetivamente de “melancia”.
Tribus: perspectiva para um novo caminho
Mas foi em 1981 que ela apresentou seu primeiro produto – o chassi Tribus. Em setembro do mesmo ano, o Tribus foi homologado, nas versões com 12,0 e 13,2 m, autorizando a Itapemirim a produzi-lo para uso próprio ou para terceiros. Essa era a intenção da empresa: tornar-se o mais independente possível dos grandes fabricantes. Daí ela ter projetado um novo chassi, com motor Mercedes-Benz e elementos mecânicos de terceiros, porém com longarinas e travessas fabricadas e montadas em sua oficina no Espírito Santo.
Em março de 1982 apresentou novo projeto, o ônibus rodoviário de dois eixos Superbus, sobre plataforma Mercedes-Benz O-364 com motor aspirado, porém com carroceria de fabricação própria.
Seguindo na linha de produção dos próprios veículos nascia, em 1989, mais um modelo da família: o Tribus III, uma das carrocerias mais fabricadas pela empresa. Com ele chegou também o novo visual da frota. Deste momento em diante, com a Tecnobus Implementos Rodoviários Ltda, a Itapemirim começava a fabricar e a fornecer veículos para todas as empresas do grupo.
Ainda no quesito produção dos próprios veículos, o Tribus IV foi inicialmente testado em 1997
e sua produção se iniciou a partir de 1998. Este modelo na verdade é a junção do Tribus III com o Monobloco O-400 da Mercedes Benz.
Cronologicamente, houve alguns avanços e conquistas para a empresa, sobretudo em regiões nas quais ela não fazia atendimento. Em 2001, nasceu a Kaiowa com a função de aumentar as rotas de linhas, atendendo áreas interioranas do estado do Paraná. Em 2003, operou outras linhas já pertencentes ao grupo, porém, prestou atendimento somente até 2007.
É evidente que todos os fatos são importantes durante o desenvolvimento e operação de uma empresa (ainda mais no segmento rodoviário). Mas, seguindo as tradições, há marcos que são mais destacados que outros. Um deles é a comemoração de 50 anos de alguma conquista. Permanecer durante meio século resistindo aos altos e baixos da economia não é tarefa fácil. E foi enfrentando instabilidades de mercado que a Itapemirim chegou aos 50 anos no ano de 2003. Para comemorar uma data tão importante, ela encomendou, à Marcopolo, 100 unidades de Paradiso G6 1200, sobre O-400RDS. Apresentou nesta comemoração, um novo visual que a acompanhou até o final de sua história.
Mas a comemoração não foi apenas da idade da empresa. Além da aquisição destes 100 veículos novos, a Itapemirim criou o “Colabus”, modelo de ônibus exclusivo fabricado pela empresa (uma junção de Busscar e Tribus) que rodou pelo Espirito Santo com o prefixo 50080 (50 anos da empresa e 80 de seu fundador). O Colabus está guardado no museu da empresa juntamente com outras relíquias.
Inúmeros podem ser os fatores responsáveis pela queda de demanda numa empresa. Às vezes, a chegada de uma concorrente (inicialmente) já pode “balançar” um pouco as estruturas, até que se retome novamente a condição anterior. Mas, houve uma que afetou diretamente todas as empresas de transporte rodoviário: a queda no preço das passagens áreas. Este foi, sem dúvida, um dos grandes motivos que desestabilizou boa parte das empresas rodoviárias. O preço das passagens chegou a um patamar tão baixo que começou a compensar mais viajar de avião (pela comodidade, tempo, conforto, enfim) que de ônibus. Isso causou uma queda absurda na demanda das empresas de ônibus, sobretudo naquelas que faziam conexões com o nordeste do país – eixo central da Mirim.
Mas, elas precisavam retomar seus clientes e investimentos dos mais variados começaram a ser feitos com este objetivo.
A empresa enfrentou uma crise e deixou de operar com o nome de Itapemirim. O que se via nas ruas era uma empresa chamada Kaissara.
Em 2017, ela deixou de pertencer à família Cola e passou a pertencer e ter o comando de empresários paulistas: Sidnei Piva de Jesus, Milton Rodrigues Junior e Camila de Souza Valdívia – a última foi nomeada presidente da companhia.
Embora tenha se colocado e apresentado proposta inclusive para o setor de urbanos, chegando a aparecer sozinha em licitação, apesar de ter enveredado e operado temporariamente no transporte aéreo, por uma diversidade de problemas de todas as ordens, a Itapemirim deixou de operar as linhas e teve sua falência oficialmente decretada.
Mas, a partir de 04 de março de 2023, uma nova fase da empresa começou a ser escrita nas rodovias do país. Com autorização da justiça, após inúmeros recursos, a partir de arrendamento de linhas e estruturas, a empresa Suzantur tornou-se responsável pela empresa e deu início a um novo momento na sua história. Com nova gestão, sob o nome de Nova Itapemirim, vem retomando serviços e, gradativamente, recuperando a confiança e a credibilidade daqueles que ajudaram a torná-la uma das maiores empresas do setor rodoviário. Desde março, vem reativando linhas e conectando importantes regiões do país. Para comemorar o aniversário e para fazer jus a um passado tão glorioso, a Nova Mirim repintou um veículo da Marcopolo – um New G7 – utilizando uma das mais tradicionais pinturas da empresa. Prefixado com o número 70 000, representa a idade e com pintura retrô, o veículo relembra momentos importantes da história da empresa. Com agenda definida para o mês de comemoração do aniversário, o ônibus partirá de São Paulo para cidades como Curitiba, Nanuque, Ipatinga, Vitória, Belo Horizonte, Brasília, Guarapari. Mas caso alguém queira acompanhar de perto os roteiros é bom ficar atento à possíveis modificações alterações em virtude de eventuais manutenções no veículo, além, é claro, de alguns fatores relacionados a trafego nas rodovias.